quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Secretário de Estado admite caça ao lobo ibérico em Portugal


O secretário de Estado da Conservação da Natureza, Miguel de Castro Neto, admitiu nesta terça-feira que caso se confirme um aumento da população de lobo ibérico em Portugal terão de ser tomadas novas medidas para proteger o gado, dando como exemplo a caça.
"Se se confirmar que a população de lobo aumentou [atingindo determinados níveis], outras medidas" terão de avançar "e uma delas a actividade cinegética", disse Miguel de Castro Neto na Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local, na Assembleia da República, onde esteve a ser ouvido o ministro que tutela esta área, Jorge Moreira da Silva.

Castro Neto respondia à deputada do partido Os Verdes, Heloísa Apolónia, que pediu esclarecimentos acerca de declarações do secretário de Estado à comunicação social, colocando a hipótese de o lobo ibérico (Canis lupus signatus), espécie actualmente protegida e classificada como "em perigo" no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, poder passar a ser alvo de caça.
No final de Janeiro, o secretário de Estado anunciou a criação de um grupo de trabalho para actualizar os dados relativos à espécie, a sua localização, o número de alcateias e de presas naturais. O mais recente Censo Nacional do Lobo, de 2005, contabilizou cerca de 300 indivíduos em território nacional distribuídos por 65 alcateias. Segundo Miguel de Castro Neto, o grupo de trabalho irá preparar um plano de acção para conciliar a protecção da espécie e a das explorações agrícolas, podendo propor alterações à lei.

A associação ambientalista Quercus reagiu recentemente a estas declarações, que considerou "infelizes e despropositadas", por não assentarem em "qualquer estudo ou estratégia definida a longo prazo" para a conservação do lobo ibérico. "Estudos científicos demonstram que o abate de alguns lobos numa população não leva necessariamente a uma redução da intensidade de ataques ao gado. Pelo contrário, a aplicação de correctas medidas destinadas à protecção e vigilância do gado são a melhor solução para reduzir eficazmente os ataques de lobo", considera a associação num comunicado enviado às redacções.

A possibilidade de abrir a espécie à caça está em sintonia com as intenções do Governo espanhol, que em Setembro passado pediu à Comissão Europeia uma alteração à Directiva Habitat no sentido de permitir a caça legal, na zona a sul do rio Douro, de 10% da população destes animais existente na Península Ibérica.
Porém, em Dezembro, o ICNF não punha a hipótese de Portugal seguir o exemplo espanhol. "A evolução do efectivo populacional e área ocupada pelo lobo em Espanha apresenta actualmente uma situação totalmente distinta de Portugal, não permitindo comparações nomeadamente quanto às opções de gestão adoptadas", declarou este organismo.

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